Um lugar para refletir sobre o ensino superior de matemática, sobre cãezinhos que roncam e sobre balas de ursinho!
domingo, 5 de maio de 2013
Sobre as borrachas
Gostaria de começar esse texto relembrando minha opinião sobre professores maus, que pode ser vista aqui.
Agora podemos começar o texto de hoje, que é uma homenagem especial aos meus queridos amigos professores da Universidade Federal de Ouro Preto. Especialmente àqueles conhecidos pelos alunos como "burraxa". Nossa, um termo tão carinhoso! Nunca alguém me tratou com tanto respeito! Não vou mencionar nomes, porque é muito feio falar mal das pessoas em rede nacional e também porque é totalmente desnecessário, uma vez que os alunos já falam mal abertamente de todos nós na rede mundial conhecida como Facebook.
Cara, tenho que confessar: você não quer ser o professor "burraxa". Talvez o fato de ser mulher também atrapalhe um pouco as coisas (vivemos numa sociedade machista? Não, imagina!). Sabe o cara legal, que te trata com educação, atencioso, bem intencionado? Alguns alunos simplesmente não conseguem ter um professor assim. Poque o cara ser legal é imediatamente transformado em "casa da mãe Joana". No início do semestre existe uma fila quilométrica de gente na porta da sua sala querendo matricular na sua turma "poque é o único horário que dá". Na verdade a maioria quer é moleza. Se você ficou com a fama de "burraxa", meu amigo, já era. Atrai automaticamente todos os alunos da universidade que não estão interessados em estudar (estranho imaginar que existe esse tipo de gente na universidade, não é mesmo?). E no final do semestre tem outra fila de gente que acha que vai conseguir as coisas no grito. E aquela fila de pessoas que não fizeram absolutamente nada o semestre inteiro e que esperam o milagre da multiplicação dos pontos. Quando eu era aluna idolatrava todos os professores gente boa que eu conhecia. Infelizmente eles não eram a maioria, mas eram os mais bem tratados e mais queridos dos alunos. Infelizmente, os professores legais da UFOP não recebem o mesmo tratamento. Na verdade, é o contrário. O desrespeito é tanto que parece piada. E todo ano os alunos se superam pra ver quem desrespeita mais no já tradicional leilão de professores que acontece na página da UFOP no facebook.
E aí, começamos a nos perguntar: Burraxa: ser ou não ser? Eis a questão... o problema é que cada professor recebe uma de apenas duas possíveis classificações: ou é "garrado", ou é "burraxa". Assim a classificação de cada um deles, em termos de suas qualidades didáticas, fica totalmente incompleta. E para aqueles que se esforçam em fazer seu trabalho direito, sem avacalhar a vida dos alunos, atendendo todos com educação e buscando sempre melhorar suas aulas e seu trabalho é um grande balde de água fria receber o tratamento destinado pelos alunos (em geral) a um professor "burraxa". Duvido que qualquer professor "garrado" do ICEB tenha passado pelas situações de desrespeito que eu e outros professores "burraxa" passamos várias vezes.
Para concluir, quero deixar de lado a visão egoísta de "que mal pode o rótulo de "burraxa" faz ao próprio professor" e pensar grande. O que todo mundo não vê aqui é que por trás de toda essa discussão está o que a meu ver é o grande problema do país. As pessoas não fazem o seu trabalho com honestidade a não ser que elas sejam forçadas por alguém a fazer-lo. Muitos professores não dão boas aulas e não se preocupam com as consequências de seus atos (reprovações demais ou aprovações demais), simplesmente porque não existe um chefe que os force. Os alunos não estudam, porque ninguém os força. Se ser "garrado" significa ser mal e reprovar a galera pelo simples
prazer de reprovar, ser "garrado" é ser corrupto. Agora se ser "burraxa" significa passar todo mundo sem que esses se esforcem (e tenho certeza que esse é o uso do termo), ser "burraxa" é ser corrupto. Quando aprovamos os alunos estamos assinando embaixo que eles sabem a matéria e que estão aptos a seguir em frente, concluir seu curso e sair por aí construindo prédios, operando as pessoas, ensinando nossos filhos. Temos que ser críticos com o que fazemos quando aprovamos um aluno. Ninguém tem noção de o quanto é grave aprovar um aluno que não sabe a matéria. Isso está por trás de muitos "desastres" que acontecem e que infelizmente continuarão acontecendo por aí. Então ser "burraxa" não só é ruim para o cara "burraxa" mas também para todas as outras pessoas do mundo, que confiaram a ele a tarefa de verificar se seus alunos estão aptos a exercer a profissão que escolheram e na qual ele falhou.
Para mim, a melhor resposta para a pergunta fundamental da vida, do universo e tudo o mais é: Faça seu trabalho da melhor forma, dê boas aulas, trate seus alunos com atenção, aprove aqueles que fizeram por onde. Não seja "garrado", não seja "burraxa". A sociedade agradece.
Assinar:
Postagens (Atom)